16.5.10

Ao passado

Depois de meses e meses, finalmente uma recepção como deve ser. Esmerou-se a senhora minha mãe.
Já hoje a manhã não estava fácil. Sair da cama, tendo em conta todo o berrario que se passava, foi coisa para ter a certeza que estava num pesadelo. Fingi não ouvir o meu nome, gritado por várias pessoas em simultâneo, que deixavam transparecer a excitação de darem comigo outra vez deitado no quarto que foi e continua a ser meu, e continuei deitado com a certeza de que iria acordar adolescente outra vez. Que me ia chatear e andar à bulha com os meus irmãos, que ia sair de casa, a correr, sem tomar o pequeno-almoço perante o olhar reprovador do meu pai e o ar de consternação da minha mãe. Por momentos senti tudo isso outra vez, e até senti o cheiro das torradas que eram feitas, e que naquele momento, de facto, estavam a ser feitas.
Mas ao abrir os olhos e passar a mão pela cara senti uma barba que não era de adolescente, olhei o espelho que, por uma questão de posição, só reflectia o meu corpo do pescoço para baixo, e rapidamente percebi também que não era um corpo de adolescente. Ao olhar o visor do telemóvel vislumbrei uma criança tão feliz, na inocência da sua infância, quando ouço frescas risadas vindas do outro lado da porta, que encaixavam de modo perfeito com a imagem que estava a ver.
A porta abre-se, e é quando me apercebo que afinal tenho 33 anos.

1 comentários:

Anónimo disse...

Bom, muito bom!
Sofia